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terça-feira, 29 de maio de 2012
Cigarro, tempo, bateria.
Ela tinha aquela mania de coçar a nuca enquanto bocejava. Seus olhos lacrimejavam e denunciavam o cansaço que acabava de chegar. Acendeu um cigarro. Marlboro Light. Ela sempre fumava esse. Ali, sentada na cama, vestindo um short laranja que usava para dormir e um top branco com um furo na alça, coçava os olhos fazendo borrar o lápis preto de doze horas atrás. Observava o quanto havia engordado e se esforçava para esconder, apesar de não ter ninguém olhando. Seus pensamentos eram cheios de espaços vazios que ela não conseguia preencher. Talvez não quisesse. Ou não era a hora. O tic-tac do relógio vermelho de parede que sua tia trouxe de Amsterdã só a fazia lembrar que poderia não ser a hora, mas que o ponteiro não parava. Nunca. O barulho era até irritante. Deu o último trago no cigarro, tirou outro do maço, o acendeu e o repousou no cinzeiro. Era um teste. Quantos minutos o cigarro demoraria para queimar até se transformar em cinzas? Olhou para o relógio, mentalizou uma contagem regressiva começando do três e já. Uma angústia penetrou sua alma e ao invés de apagar o cigarro, ela se colocou na ponta dos pés, agarrou o relógio e lhe arrancou a bateria. Quando olhou para o cinzeiro, o cigarro já havia queimado por completo. Sua solução foi paliativa. Tentar parar as horas, os minutos, os segundos; arrancar a bateria dos outros ou até mesmo a sua. Se não apagar o cigarro, ele continuará queimando. O tempo passa. A bateria acaba. O cigarro queima. Ela decidiu. Deixa estar, deixa passar, deixa queimar. Sempre tem outra bateria, outro cigarro, outro tempo. Suspirou e adormeceu.
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