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domingo, 11 de agosto de 2013

Autópsia




Quase torturo os meus olhos com essas águas salinas nos dias em que acordo e resolvo me analisar. Esse autoexame exige um grau de autoconhecimento tão profundo que me faz perder o fôlego e pensar em desistir. Por dentro tudo é tão mais frágil. Olho para as paredes do meu interior e enxergo muito mofo. Deixei algumas partes apodrecerem e esqueci de jogar fora. Não gosto de tudo que vejo, mas percebo que é hora de começar a arrancar o verde com as unhas. Sim, machuca. Mas como cicatrizar sem ferir? Fico nervosa. Não tenho controle sobre mim. Emudeço. As palavras são vãs, bem como a minha vontade de ser o que não consigo alcançar. Vivo em constante prática terapêutica comigo mesma. Há dias que as noites são mais claras que meus pensamentos. Sou mulher esquisita. Desenho mal e porcamente todas essas linhas de raciocínio lógico. E é lógico que não é natural ser assim. Aquilo - que do lado de fora vai se traduzindo em pele, olhar, toque e calor - vem daqui de dentro, desse lugar que estou te mostrando, onde escondo minhas falhas, onde sou invulgar, onde posso me aborrecer com minhas inexperiências e fazer birra; onde minhas decepções estão arquivadas lado a lado com as minhas impulsividades. Estou me despindo toda por dentro e preciso que você me veja nua. O que você vê? Confesso que estou morrendo de medo. Me sinto vulnerável assim, com as vísceras à mostra. Quando os meus olhos se abrem, vou revisitando todas essas memórias e me sinto envergonhada. Coloco a minha capa dura e me faço arredia. Mas o processo de cicatrização é um tanto quanto vertiginoso do outro lado da pele. Há outras cicatrizes. Já houve outras limpezas, outras autópsias, outras decomposições. São a partir delas que eu me reapresento todos os dias. Estou aqui hoje e você pode me tocar, porque sou como música: cifrada, mas nunca impossível de ler.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu amo os seus textos.