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quinta-feira, 29 de março de 2012

Puzzle it in a lie







A vida é um quebra-cabeça que, para montar, demanda esforço físico e mental.
Mentir é como pegar uma de suas peças e esconder; o quebra-cabeça nunca fica completo sem essas peças que você mesmo escondeu. A peça de uma verdade nunca vai repor a peça de uma mentira, e assim, isso tudo se transforma em um jogo no qual você pode escolher viver incompleto, porém impune ou completo e sujo. A verdade é que não existe um quebra-cabeça completo. Todo mundo tem suas indignas - e, talvez necessárias - peças da mentira.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Duas sinceridades







Saudade daquela segunda-feira gelada. Finalmente criei coragem para me aproximar de você. Fui chegando mais perto sob o pretexto de estar com princípio de hipotermia. Tá, exagero meu. Só estou com frio. Aquela velha tática, eu reclamo do frio e você tem duas opções: me empresta sua blusa ou me abraça. Prefiro a última.
- Quer minha blusa?
- Não, claro que não! Se você me emprestar a sua, você quem vai sentir frio. Aí não vale.
- Não me importo.
Enquanto ele entrelaçava os braços em frente ao peito e agarrava os dedos na borda da blusa para tirá-la, eu num impulso - vindo, juro, não sei da onde - coloquei minha mão em cima de seu blusão e o impedi. Seus olhos se abriram rapidamente e me olharam, arregalados. Logo correram para o sul e avistaram ali a minha mão, intrépida, aventureira, corajosa e firme. Bom, essa era a expectativa. Agora a realidade, vamos lá. Eu parecia um defunto. Nem eu mesma acreditava que tinha feito aquilo. Ainda bem que era, de fato, um dia gelado, e eu tinha uma desculpa para minhas mãos trêmulas e congelantes.
- Você não quer?
- É... Bem, não. Não exatamente, sabe?
Nessa hora eu pensei em tirar minha mão de cima do braço dele, mas ele também não tinha tomado a iniciativa de mover o braço dali, ele simplesmente afrouxou e os repousou sobre o abdomen. Que culpa tenho eu? 
- Como assim?
- Deixa pra lá. É que...
Ele foi escorregando minha mão sobre seu braço até chegar em sua mão. 
- Nossa! Que mão fria!
Colocou-a entre as suas como uma carne no meio de dois pães. Com aqueles típicos movimentos de vai-e-vem, ele foi tentando um aquecimento provocado pelo atrito. Mal sabe ele em qual calor eu penso promover através de movimentos bem parecidos, eu diria. Enfim.
- Obrigada, viu?
- Você ainda não me disse o que quer.
- Já que você esquentou minha mão, acho que merece uma sinceridade.
- Posso esquentar a outra. Aí você me deve "duas sinceridades", ó!
Eu pareço estar sofrendo um derrame quando estou numa situação dessas. Porque, olha, só pode ser isso. Eu fico apática. Mas, contraditoriamente, meu sangue deve parar de circular no meu cérebro e ir todo para o coração. Juro. Eu não sou normal. Cento e setenta batimentos por minuto, mãos produzindo gotículas de suor a todo vapor, pupilas dilatando feito um buraco negro... 
- Você.

Isso é o fim!




Andei pensando e me perguntando por que o final sempre nos fascina mais. Já percebeu? A gente sempre quer saber o final de um livro, o final de uma história, o final de uma novela. O fim da vida. Pra onde iremos? Realmente acaba? Ou é o começo de outro fim? O fim também pode ser traduzido como resultado. O resultado é o que mais importa. Onde vai dar o seu relacionamento, quantos filhos você vai ter, quanto você vai receber no fim do mês.
É sofrido pensar só no fim das coisas. Tudo acaba, eventualmente. Então eu proponho uma mudança de parâmetros, de mentalidade, de atitude. Não vou me preocupar com o final. Vou me preocupar no caminho que vou trilhar até chegar no inevitável fim. Vou tratar de dar um brilho na minha história, cuidar mais de quem gosta de mim, trabalhar mais, reclamar menos, sorrir mesmo quando o meio de campo estiver embolado, chorar quando necessário, planejar sem medo de dar errado. Muita coisa eu nem pedi pra começar, não sei quando irá terminar, mas tenho certeza que posso mudar como.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Expirada pela insônia







Ah, essas noites inspiradas e expiradas pela insônia, insistentes em deixar meu corpo sem repousar e sem sentir aquela única hora que a falta do oxigênio é interessantemente deliciosa, conseguindo provocar bocejos que lacrimejam meus olhos e me fazem balbuciar palavras desarticuladas. Maldita insônia. O meu olho esbugalhado só me faz lembrar que não irei dormir pelas próximas horas. Todos se despedem com desejos verdadeiros - ou não - de boa noite e eu começo a suspirar pelos cantos, pensando comigo mesma se irei - ou que horas, de fato - ter uma boa noite de sono. A ansiedade não ajuda em nada. Fico estressada porque estou ansiosa porque não consigo dormir. Fez sentido? Não? Ah, foda-se. Desculpa, estou um pouco nervosa. É que não quero ficar aqui sozinha enquanto todos dormem. Fica comigo? Quem sabe meu sono goste de você aqui comigo e resolva me consumir. Bom, eu já gosto. Vem?

segunda-feira, 12 de março de 2012

A insustentável leveza do caos







Viver em constante caos cansa. Caos da mente. Caos do corpo. Caos da cidade. Puro caos. 
O caos causa dormência, desordem, confusão, irritação, impaciência. Causa dor, irreverência, imprudência.
Mas o pior caos é aquele proveniente dos pensamentos. Desorganizados, eles se perdem nos impulsos nervosos e nas sinapses, provocando atos involuntários, irrefletidos nas ligações improváveis que minha mente insiste em fazer. Nessas idas e vindas caóticas, eu me ausento de mim e me projeto na culpa. Engano meu, isso, de tentar ir contra uma teoria tão consistente porém impraticável. E é em detrimento do meu próprio ser que eu gosto de praticar o impraticável, enganar a ilusão. Me faço impune dentro do impossível. Eu anseio pelo inatingível. Naqueles vazios que causam uma sensação de arrepiar os ossos, eu me ouço, me compreendo, mas fico arredia de mim mesma. Mas assim, invento novas formas de me reinventar e novos estilos de reaprender a viver intensamente nessa insustentável leveza do caos.

terça-feira, 6 de março de 2012

Fora do lugar







Meu quarto está uma bagunça. Está tudo fora do lugar. Interessante isso. Eu decido qual o lugar que algo deve ficar, mas quando eu mesma o tiro de lá, o considero, oficialmente, fora do lugar. Irônico, não? 
Mais irônico é que, por mais que esteja bagunçado, eu conheço minha bagunça, sei exatamente como revirar uma gaveta para achar uma coisinha aqui, outra bugiganga ali. Às vezes pode ser algo importante que se perde na confusão. Mas, eventualmente, acabo achando. Tenho preguiça de procurar por muitas coisas. Me cansa. Sou acomodada demais, acho. Ou, talvez, eu só não esteja afim de achar o que você quer que eu ache agora. Não agora. Deixa ali, guardado, no meio da minha caixa de meias. No meu quarto tem de tudo. Livros que não leio mais; recordações de lembranças que preferia esquecer - mas não sei jogar fora; lápis de cor só para enfeitar e decorar os desenhos que não sei mais colorir; papéis com escritos que nunca mais irei ler; roupas que não uso mais; um violão novo; uma tevê velha; um computador meia-boca; minha calça preferida, minha blusa surrada que insisto em usar; minha cama que já pedi em casamento; o telefone que só toca pra me acordar do sonho mais lindo; meus dois pares pretos de All Star. Coisa boa ou ruim, não importa, é tudo meu. Sou assim, egoísta, possessiva e cheia de não-me-toques. Nessas horas, viro uma criança de sete anos com aquele discurso de é-meu-e-eu-faço-o-que-quiser-dele e o famoso os-incomodados-que-se-retirem.
Não, não tente arrumar minha bagunça. Se você quiser fazer parte dela, seja bem-vindo. Mas lembre-se: eu te coloco onde eu quiser e, se algum dia você sair dali, te considero, oficialmente, fora do lugar.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Hangover




Acordei num daqueles dias que coloco o alarme para despertar só para ter o gostinho de desligá-lo e voltar a dormir. É engraçado como que no segundo que segue após o abrir dos olhos, você não se lembra quem é, onde está e muito menos do que fez no dia anterior. Para tudo. O dia anterior. Meu Deus. O primeiro segundo passa e como uma profecia se concretizando, sua cabeça começa a doer, seu coração começa a saltar, sua memória volta naqueles flashes inconvenientes e desconexos que podem matar de tensão. Melhor levantar. Como? Minha cabeça parece uma âncora no travesseiro. Ensaio uma, duas, não mais que três e dou um pulo. Tudo rodopiando. É até divertido. Pelo menos estou em casa, penso. Vou cambaleando até o banheiro torcendo para ninguém ter o desprazer de ver a encarnação do diabo depois de uma festa no céu. Mas é óbvio que Murphy tá aí pra isso. Oi, mãe. Invento uma desculpa para ir direto pro banheiro e não ter que ir dar aquele beijinho de bom dia exalando álcool. Volto pra cama e prometo nunca mais beber. O telefone toca. E aí, qual é a boa? Beleza então, nos vemos mais tarde. E lá vou eu de novo.