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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Diálogo entre mim e o órgão que pulsa




– Ei, vem cá, vamos conversar.
– Não.
– Eu quero te contar uma coisa.
– Não me interessa.
– Você é teimosa demais. Nunca me ouve.
– Tá bom. Eu não sou teimosa, mas vai, cospe.
– Não fala assim comigo. Eu sempre estou aqui apertado e você não parece fazer questão de me ajudar.
– Ah, você merece, viu. Nunca me obedeceu e agora que vir conversar. Qual é! O que você quer me contar?
Na verdade, não tenho nada para contar. Você só precisa saber que eu nunca te obedeci mas também nunca mandei em você. Se você fez o que eu te mostrei, foi escolha sua. Eu bato, você escolhe.
– Como ousa?
– Eu sou ousado.
– E idiota.
– Sou confuso, mas não sou idiota.
– Essa sua confusão me irrita tanto.
– A confusão pode começar aqui, mas você continua ela aí. Muitas vezes não tem nem confusão. Você que não admite.
– Você está me confundindo.
– Admita. Você gosta de uma confusão. Mergulha de cabeça e eu, bom, eu vou junto, né? Você sabe disso porque me sente pulsando em todas as suas partes. Rápido. Devagar. Forte. Devagar. Você me quebra e depois chora sobre meus pedaços, tentando me montar. Como se fosse fácil assim. Ainda estou te confundindo?
– Não. Você tem razão – Ah, que ironia! – Tem coisas que eu queria admitir. Mas outros sentimentos me impedem.
– Quais sentimentos?
– Ciúme, por exemplo.
– Ah, esse eu já tentei puxar papo, mas não adianta. Ele é um problema para mim também. Só que você é quem deveria manter tudo sob controle e não deixar ele chegar perto de mim. Quando ele chega, disparo. Faço você ficar quente e vermelha.
– É, você não ajuda mesmo. Só piora. Não sei como me livrar dele. Me ajuda?
– Era sobre isso que eu queria conversar com você.
– O quê?
– O produto das minhas pulsações e sensações, ah...o que é proveniente de mim, meu bem, nunca é ciúme. É outra coisa. Pare de se enganar. Você sabe muito bem o que quer.
– Sei?
– Sabe.
– O quê?
– Já disse que você sabe.
– Mas...
– Sem ‘mas’.
– Com ‘mas’. Sempre tem um ‘mas’.
– Não, sempre tem um ‘mais’.
– Mas...?

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