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sexta-feira, 23 de março de 2012

Duas sinceridades







Saudade daquela segunda-feira gelada. Finalmente criei coragem para me aproximar de você. Fui chegando mais perto sob o pretexto de estar com princípio de hipotermia. Tá, exagero meu. Só estou com frio. Aquela velha tática, eu reclamo do frio e você tem duas opções: me empresta sua blusa ou me abraça. Prefiro a última.
- Quer minha blusa?
- Não, claro que não! Se você me emprestar a sua, você quem vai sentir frio. Aí não vale.
- Não me importo.
Enquanto ele entrelaçava os braços em frente ao peito e agarrava os dedos na borda da blusa para tirá-la, eu num impulso - vindo, juro, não sei da onde - coloquei minha mão em cima de seu blusão e o impedi. Seus olhos se abriram rapidamente e me olharam, arregalados. Logo correram para o sul e avistaram ali a minha mão, intrépida, aventureira, corajosa e firme. Bom, essa era a expectativa. Agora a realidade, vamos lá. Eu parecia um defunto. Nem eu mesma acreditava que tinha feito aquilo. Ainda bem que era, de fato, um dia gelado, e eu tinha uma desculpa para minhas mãos trêmulas e congelantes.
- Você não quer?
- É... Bem, não. Não exatamente, sabe?
Nessa hora eu pensei em tirar minha mão de cima do braço dele, mas ele também não tinha tomado a iniciativa de mover o braço dali, ele simplesmente afrouxou e os repousou sobre o abdomen. Que culpa tenho eu? 
- Como assim?
- Deixa pra lá. É que...
Ele foi escorregando minha mão sobre seu braço até chegar em sua mão. 
- Nossa! Que mão fria!
Colocou-a entre as suas como uma carne no meio de dois pães. Com aqueles típicos movimentos de vai-e-vem, ele foi tentando um aquecimento provocado pelo atrito. Mal sabe ele em qual calor eu penso promover através de movimentos bem parecidos, eu diria. Enfim.
- Obrigada, viu?
- Você ainda não me disse o que quer.
- Já que você esquentou minha mão, acho que merece uma sinceridade.
- Posso esquentar a outra. Aí você me deve "duas sinceridades", ó!
Eu pareço estar sofrendo um derrame quando estou numa situação dessas. Porque, olha, só pode ser isso. Eu fico apática. Mas, contraditoriamente, meu sangue deve parar de circular no meu cérebro e ir todo para o coração. Juro. Eu não sou normal. Cento e setenta batimentos por minuto, mãos produzindo gotículas de suor a todo vapor, pupilas dilatando feito um buraco negro... 
- Você.

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